Tuesday, December 05, 2006

Café da Manhã em Plutão
Meu primeiro pensamento "crítico" sobre o filme foi; "muito grande, muito complexo", o que em minha opinião atesta muito pouco sobre o filme e muito mais sobre a minha profunda imersão no cotidiano, na banalidade,ou melhor,a minha falta de sensibilidade no momento. O filme conta a história, ou melhor, a jornada, de Patrick, ou Patrícia, em busca de algo. Sentir-se incompreendida,e de certa forma, por isso, excluída, é o que inicialmente a motiva em sua busca. O algo que Patrick buscava ganha forma quando ele descobre que é filho de uma mulher que deixou a cidade a muito tempo e que fora empregada do padre da cidade. Neste momento a personagem elege a busca da mãe,ou melhor um futuro encontro com ela, como uma possível solução de seus problemas. Mas isso não está claro no filme,é apenas uma leitura que eu ofereço a quem leia as presentes linhas, afinal a obra de arte estará sempre inconclusa a espera do público que lhe enxerte de significações e ressignificações.
A partir daí se inicia a jornada em busca da Dama Fantasma (a mãe de Patrícia). A opressão inglesa sobre os irlandeses pode ser levemente sentida no filme, que não chega porém a fazer uma apologia revolucionária. Se há alguma apologia no filme talvez esteja ligada à questão da alteridade, tão na moda recentemente. Tratar de minorias (no caso a personagem que se "traveste") quase sempre leva a esse ponto. Patrick talvez não seja um personagem que "faça sua história", mas é ao menos um personagem que tem a coragem de se "jogar" e deixar que a vida o leve, e ela o leva a momentos de dissabores e felicidades.
De fato o diretor conduz claramente (minha leitura) a uma simpatia por Patrícia, ainda que em alguns momentos sua "porra louquice" possa gerar no espectador um pequeno distanciamento. Não chega porém a despertar sentimentos muito conflitantes. O pai de Patrícia é um personagem desfavorecido na trama já que aparece em aspectos opostos no inicio e na segunda parte do filme, sem que possamos acompanhar melhor a sua mudança. Mas afinal o diretor faz suas escolhas. Como coadjuvante porém tem um papel importante e aparece em uma grande "virada do filme". O momento em que Patrícia Gata finalmente se aproxima do encontro com a Dama fantasma. No final ela desiste de se apresentar à sua mãe e diz ao pai que sua busca por ela levou-a a ele. Inovou-se ao não se dizer que a jornada pela mãe levou-a a si mesmo, o que porém permanece como uma leitura plausível.
Mais um momento de "choque de alteridade" e a residência do padre (pai de patricia), onde Patrícia e uma amiga de infância dormiam é incendiada. Nesse momento separam-se novamente pai e filho com promessas de visitas futuras.
O filme termina com um novo encontro, "ao acaso", entre mãe e filha, ou melhor, entre filho e irmão em que Patrícia não mostra-se disposta a promover uma "revolução", pra ela não mais importa se apresentar à mãe, é como se saber ser isso possível já bastasse, afinal a mágica era mesmo encontrar a mãe, não conhecê-la efetivamente.
Não mais recordava a parte do filme que me trouxe algumas lágrimas. Creio que tenha sido a desistência da amiga de Patrick em abortar. O chato é que o diretor parece querer contrastar a revolução à felicidade, ou ao menos isso me parece uma leitura plausível. A amiga de Patrícia anti-revolucionária se decide pela vida, já o violento "revolucionário" do seu marido acaba morto em uma demonstração da frieza da causa. Nesse ponto prefiro adeus Lênin que parece pregar que a causa não precisa ser necessariamente fria nem tão distanciada do sujeito. Plutão parece levar a idéia de que as ideologias morreram e que a revolução é uma farsa porém não chega a ser uma defesa do individualismo. Porém defender simplesmente a solidariedade e a melhor aceitação da alteridade é uma defesa realmente transformadora? Não sou um apologeta da revolução, sou "Bobbiano" nesse aspecto e acredito num gradual aprofundamento da democracia como melhor meio à qualquer transformação social. Melhor não significa único. Porém a defesa da morte das ideologias e equiparar toda a luta a uma luta cega não seria também esquecer o sujeito de uma outra maneira apenas? As ideologias não devem ser descartadas como se não representassem, em alguns casos, a ânsia de sujeitos em busca de uma libertação. Adeus Lênin me passa uma idéia de uma postura crítica frente a elas e nesse aspecto a prefiro do que o filme em comento. Porém esse não me parece o tema central do filme como foi o caso de Adeus Lênin e por isso me parecem injustas as comparações aqui traçadas.
Resumindo, gostei do filme, me fez chorar em pelo menos um momento, me fez rir em vários, me indignou, me fez lembrar dois de meus filmes preferidos –o fabuloso destino de amelie poulain e moulin rouge, e me fez ter de gastar dez reais de táxi (parte chata da história).Valeu a pena ter filado a aula de Direito Penal.

Nilo Santana
Salvador, 23 de outubro de 2006,

0 Comments:

Post a Comment

<< Home