versos para o nada 1

não sou burgues nem sou artista,
mas o peso dos dias e das noites se abate sobre mim como em qualquer outro.

o passado não existe,
mas o desejamos como se fora mais real que nós,
buscando redenção em um tempo que nunca houve.

fragmentos de memórias são fragmentos de pensamentos,
sempre presentes, vivos, fragmentos de nós mesmos turvados pela ilusão do antes e depois.

ah, mas se tudo é mesmo tão irrelevante diante do tempo,
que sequer existe fora do agora,
como explicar essa ansiedade que por vezes me invade, e me impulsiona em direção ao que não sou, ao que não tenho,
que me impulsiona ao não agora, que na verdade nunca existiu ou irá,

como explicar uma incapacidade momentanea de simplesmente ser feliz?

só pelo desacerto do que se disse,
ou pela incapacidade de se compreender o que se defende.