Eu tive
um sonho.
Sonhei
que a carregava nos ombros e de mãos dadas, dedos entrelaçados,
percorríamos os corredores do colégio em que cursei o primário e o
ginásio. A única sala em que estudei e consegui mostrar-lhe foi a
da primeira série. Embora não lembrasse mais o nome da professora,
a sala ficava bem próxima da escada – a primeira sala à direita,
para quem sobe, e a última a esquerda para nós, que seguíamos na
direção oposta – e por isso foi a mais fácil de encontrar, mesmo
em sonho.
Ela não
parecia se importar muito com nada daquilo, não fazia perguntas
sobre como era naquele tempo, nem em qual cadeira eu costumava me
sentar, mas parecia feliz e inebriada com o fato de passear por aí,
em meus ombros, em meus sonhos.
Nós não
descemos as escadas, pelo que me lembro, não achei muito prático
fazê-lo com ela em meus ombros, nem pensava na ideia de descê-la de
mim e deixá-la seguir a meu lado. Voltamos de onde viemos e em algum
momento vejo alguns amigos em comum deitados em almofadas, resolvo
deitá-la lá também e a desço de mim.
Permanecemos
de mãos dadas, mas percebo que o fato de os amigos em comum terem se
transformado em conhecidos apenas meus e estranhos para ela, a deixou
um pouco desconfortável ali e voltamos a nos mover, agora, porém,
ela segue a meu lado, dedos entrelaçados sempre.
Paramos
no meio do corredor, ela de costas contra a parede, eu colado a ela,
passo a mão por baixo de sua blusa e pela primeira vez toco
diretamente na pele de sua cintura, barriga e costas- não, não
cheguei aos seios, não que eu me lembre, havia muitas pessoas
passando por aquele corredor isso poderia tê-la constrangido, ao
menos ali e naquele momento- os rostos próximos e mais uma vez eu
sentia seus lábios junto aos meus e era muito bom.
Pouco
falamos sobre nós depois das primeiras palavras. Primeiro porque
foi um sonho curto, segundo porque as primeiras palavras foram
constrangedoras. Ela disse um “i love u” quase ininteligível e
eu, surpreso com aquilo, me percebi dizendo “eu te amo também”,
ou “eu também te amo”, não lembro ao certo. Isso foi quando a
coloquei colada contra a parede, na mesma posição em que estávamos
agora, e a beijei pela primeira vez. Foi incrivelmente mágico,
embora digam que todo o sonho seja de certa forma mágico acredito
que você possa deixar um pouco esse detalhe de lado para entender o
que eu quero dizer com isso. Foi todo esse contexto que me fez dizer
o “eu também te amo”, foi quase como um grito de comemoração,
um grito de felicidade histérica, do qual me arrependi assim que o
percebi saindo de minha boca. Mas, uma vez dita a frase achei melhor
não negá-la, até porque se não via certeza suficiente para
afirmá-la para negá-la é que certeza não havia nenhuma mesmo.
E logo
depois dos primeiros beijos, da primeira declaração dela sussurrando
praticamente para que eu não a ouvisse, e da minha declaração em
alto e bom som, embora sem nenhuma certeza interna da verdade daquilo
que era dito, logo depois, eu a colocava sobre meus ombros e, dedos
entrelaçados como símbolo da intimidade e cumplicidade
recém-conquistada e que eu queria manter a todo custo, seguimos
pelos corredores do meu antigo colégio, onde estudei o primário e
ginásio.
E agora,
de volta à posição dos primeiros beijos, eu a beijava e a tocava,
e me deixava perder ali, naquele momento que se sustentava no ar,
como se já antevendo o fim do sonho que se aproximava. Pouco nos
falamos, muito nos sorrimos, algo nos beijamos, muito nos sentimos.