Tuesday, March 19, 2013

Ao meu modo.

Queria ser o teu pior poeta,
te desenhar em porcas linhas,
tão minhas,
de mais ninguém.

Te desfazer aos quatro cantos,
aos quatro ventos, 
teus encantos, 
hão de se perder. 


Eu quero ser o teu pior poeta,
te desenhar em porcas linhas,
ranzinza,
desdentada,
maltratada pelo tempo
e a dor. 

E todos quantos lhe conheçam, 
vão chorar baixinho,
suas desventuras,
suas amarguras,
vão negar ao mundo....
que já foram teus. 

- em co autoria com Daiane Samo, que conseguiu dar ao texto um título, salvando-o do "anominato"-

Monday, March 18, 2013

16 Luas (Beautiful Creatures) - ou, uma grata surpresa.


16 Luas (Beautiful Creatures) - Dirigido por Richard La Gravenese, que dirigiu PS Eu te Amo (filme que entra na lista de favoritos de 8 em cada dez amigas minhas)  e com alguns atores conhecidos no elenco, como Jeremy Irons e Emma Thompson, 16 Luas superou em muito minhas expectativas.

É verdade que minhas expectativas não eram muito altas e havia em mim um grande receio de achar o filme pior do que a saga crepúsculo. Felizmente meus receios não encontraram eco na realidade. Um pequeno aparte para uma breve incursão sobre qual o meu problema com a saga crepusculo.... não acho nada demais vampiros brilharem no sol. É, engraçado, soa tosco? Sim, em minha opinião soa. Mas e daí? Uma história, uma narrativa, um filme ou qualquer coisa parecida precisa ter uma coerencia interna e ponto. Não é necessário ter uma coerencia externa, ou seja não precisa seguir os mesmos estereotipos e lugares comuns que temos pra tudo, assim pode criar um vampiro sem caninos afiados, que tenham uma longa cauda (rabo) e que com ela sugue o sangue humano. Enfim, pode inventar o que quiser, só precisa da bendita coerencia interna, o que ele usar precisar fazer sentido e funcionar junto com os demais elementos narrativos e personagens da trama traçada. É verdade que é complicado sair por ai reinventando tudo, do contrário precisaríamos ler um manual antes de assistir esse ou aquele filme. Mas nada deve ser sagrado no sentido de intocável, imodificável, na literatura, no cinema, ou na arte. Nem Deus, nem o diabo, muito menos vampiros. Dito isso acho a saga crepúsculo chata, com alguns personagens e cenas porém interessantes. Mas o que talvez seja o tema central do filme, a relação de Bella e Edward, não acho legal. Excessivamente melosa, superficial, etc...

Dito isso, comparar Beatiful Creatures com a saga crepusculo acho uma grande injustiça. Ao menos a comparação que busque estabelecer uma grande proximidade entre os dois. Voltemos a Beatiful Creatures (16 luas). No filme, Lena é uma garota recém chegada a Gatlin, uma pequena cidade cheia de preconceitos, talvez tipicos de pequenas cidade estadunidenses como aquela. Lena representa aqui o patinho feio. É a diferente, e não é aceita aqui como não foi aceita em outras cidades em que já morou. A grande diferença é que Lena, ao reverso do que ocorre com o patinho feio, sabe que não pertence àquele universo humano, sabe bem que é, e porque é diferente.

Todavia, assim como Deus, a literatura também salva, e Ethan Whate é o personagem que parece ter sido por ela salvo do senso comum intolerante e conservador da cidade em que vive. Ethan acaba se aproximando de Lena, porém essa aproximação é sem dúvida muito melhor construida do que a aproximação de edward e bella. De semelhança fica a coisa de termos uma nova aluna no colégio que desperta a atenção de todos. De diferenças temos basicamente que é uma nova aluna e não aluno, e que ao invés de ser olhada com admiração Lena é olhada com repúdio, como alguem vindo de uma familia com relações com o Diabo. Sim a intolerância é um tema recorrente no filme, claro sempre regado com piadas legais e muita ironia. Com o tempo Ethan descobre que a nova garota é na verdade a garota com quem ele vinha sonhando já há alguns meses- mais tarde ele ficará sabendo que ela também sonhara com ele- e aí pronto, é a coisa de se sentir predestinado, de achar que faz parte de algo maior e nesse contexto fica sim muito mais facil aceitar e assimilar todo um novo mundo com poderes mágicos e afins que acaba se revelando para ele.

Em tese, a grande trama do filme diz respeito ao aniversário de 16 anos de Lena, quando ela seria reinvidicada pelas trevas ou pela luz, (o filme é um pouco pobre nesse ponto, não traz uma contextualização adequada sobre o que é ser das trevas e ser da luz, apenas sugere que a sociedade dos conjuradores se dividem entre os da luz e os das trevas, e que os homens podem mudar de lado se quiserem, o que não seria possível porém para as mulheres). Impossível não pensar em Lost Girl   ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Lost_Girl ) nesse momento, seriado que entre altos e baixos vai se mantendo medianamente sem grandes pontos altos.

Embora não fique claro como funciona essa relação trevas-luz, fica claro que há uma disputa entre eles, e aos poucos Lena vai se revelando uma peça chave nesse embate, alguém que poderia por um fim a essa disputa (ok, aqui volto a mencionar Lost Girl e a menina sucubo que estaria predestinada a por um fim no conflito entre os ligthfae e os dark fae, assim como o ilustre garoto anakin skywalker que estaria tbm predestinado a trazer um "equilibrio" na força destruindo os sith, ao menos aos olhos do jedi que o encontrou). É em meio a esse dois grandes "plots", o aniversário de 16 anos de Lena, e a relação entre ela e Ethan, que a história se desenvolve, revelando no meio do caminho alguns personagens caricatos e engraçados, subtramas interessantes, uma concepção estética agradável, não tão sombria quanto as de tim burton mas algo próximo disso.

Falando em Tim Burton, diretor que muito aprecio, acho 16 Luas um pouco superior a Dark Shadows (Sombras da Noite). Ok, em termos de concepção visual talvez seja dificil superar Tim Burton, e algumas cenas com enquadramento cortando parte do cabelo dos atores em 16 luas pode incomodar em alguns momentos, mas em termos de historia, em termos de camadas narrativas na minha opnião 16 luas é melhor. Não entra na lista de meus filmes favoritos, nem chega perto disso, como também ocorre com dark shadows, mas sem dúvida foi uma grata surpresa. Não sei o que seria ver esse filme esperando algo bom, ou já sabendo que era do diretor de PS I love you, o que já apontaria que o filme teria talvez um ar mais sóbrio do que crepusculo- o que fato ocorre em minha opnião. O que sei é que assisti-lo esperando ver um péssimo filme cheio de clichês mal utilizados, de romances estereotipados, de personagens sem nenhuma camada de complexidade, foi sensacional. É verdade que tem muita coisa previsivel no filme. É verdade que algumas cenas soam forçadas e colocadas ali apenas por uma importância estetica (como a freiada busca e o cantar de pneus no final do filme) ou didática (para explicar algo da narrativa, mas não lembro agora qual cena me deu essa impressão). Mas no todo, o filme compensa a ida ao cinema com folga. Além de fazer propaganda de Charles Bukowski para essa geração de crepusculo, afinal outra coisa em comum com crepusculo talvez seja o publico alvo. Não é um Harry Potter ou um desventuras em série da vida.. mas nos faz lembrar que é possível sim uma narrativa de fantasia inclusive no cinema, mais inteligente, que não nos infantilize, e ao mesmo tempo possa ser também acessível ao público infantil, um filme enfim, que permita múltiplas camadas interpretativa, como penso que deva ser uma boa obra de fantasia, aliás uma boa obra de arte.

Wednesday, March 06, 2013

Sonho de artista


Um dia sonhei ser artista,
escrever sobre tudo,
com estilo e sem rimas.

Deitar no papel,
humores e amores,
gerar no outro o gozo,
o choros,
nauseas.

Um dia sonhei ser artista,
assim que acordei me lembrei de você.

Mas no sonho eu criava universos,
que eram lidos e criticados, bem e mal falados,
e alterados por cada leitor.

Eu construía portais,
pontes, atalhos.
E me deslumbrava com os improváveis destinos,
a que muitos por eles chegavam.

Um dia eu sonhei ser artista,
e quando acordei me lembrei de você,
mas você não estava no sonho,
no sonho estava eu, minha escrita …. minha arte.
E eu contava sobre meus sonhos, dentro de um sonho,
escrevia sobre minhas loucuras, desejos- confessáveis ou não,
alguns até mesmo inexistentes.
E assistia àquilo tomar forma, e ganhar outras cores e odores- e pensar que até então nunca havia sentido cheiros em sonhos- ao ser lido, adorado, deturpado, amaldiçoado e até mesmo esquecido, por tantos quanto diferentes eram os que liam.

Um dia eu sonhei ser artista,
e quando acordei me lembrei de você.
Mas você não estava no sonho,
nem deitada ao meu lado.

E eu não era mais artista, embora talvez ainda humano,
não criava mundos onde pessoas se embriagavam e transcendiam,
se encontravam e se perdiam,
não mais com minha escrita,
tampouco com o olhar.

Um dia me sonhei artista,
e acordei humano,
ausente de paixões e sonhos,
ausente de heróis e musas que levassem minhas mãos a cantarem palavras e histórias,
ausentes de olhares como os seus,
que me faziam acessar o infinito em silêncio, que me faziam artista.